Álbum da Semana: “The Doors"
Ouça este álbum, do lado A ao lado B, de domingo para segunda à noite, entre as 00h-01h.
Álbum da Semana com Sandra Ferreira
The Doors: A criação do álbum de estreia que redefiniu o rock psicadélico
Em janeiro de 1967, o mundo conhecia “The Doors”, um dos álbuns de estreia mais marcantes da história do rock. Mas o que se passou nos bastidores para transformar este disco numa obra-prima? Entre sessões rápidas, ideias arrojadas e a presença magnética de Jim Morrison, a história do disco “The Doors” é tão fascinante quanto as músicas que contém.
As gravações aconteceram no estúdio Sunset Sound Recorders, em Los Angeles, ao longo de apenas seis dias. Com a produção de Paul A. Rothchild e engenharia de som de Bruce Botnick, a banda procurava capturar a intensidade crua dos seus concertos ao vivo. E conseguiram: o disco é um reflexo da energia quase hipnótica das atuações dos Doors no famoso bar Whisky a Go Go, onde tinham conquistado grande notoriedade na cena underground.
Jim Morrison: O Poeta Rebelde
Durante as sessões, Jim Morrison era o centro de tudo. Chamado de “Rei Lagarto” pelos fãs, Morrison tinha uma presença quase mística e um talento inegável para a poesia e a performance. No estúdio, porém, os seus comportamentos imprevisíveis muitas vezes desafiavam a equipa. Rothchild lembrava-se de como Jim alternava entre momentos de brilhantismo e outros de distração total – às vezes desaparecendo durante horas antes de regressar para gravar com intensidade renovada.
Um exemplo dessa intensidade está em “The End”, o momento épico que encerra o álbum. Morrison gravou num estado quase de transe, improvisando partes da letra naquele momento, incluindo a controversa secção de inspiração edípica. Rothchild ficou tão impressionado que insistiu para que a versão fosse incluída sem cortes, apesar do risco de censura.
Curiosidades
“Light My Fire”, foi escrita em grande parte pelo guitarrista Robby Krieger, foi gravada como uma faixa longa, com um solo instrumental que se tornou icónico. A banda relutou em cortar a música para rádio, mas acabou por aceitar – e o single editado tornou-se um enorme sucesso, atingindo o topo das tabelas.
Jim Morrison, que frequentemente improvisava, adicionou uma das suas frases mais conhecidas em “Break on Through (To the Other Side)”: o repetitivo “she gets high” foi inicialmente cortado pelos produtores devido ao teor polémico, mas anos depois seria restaurado em reedições do álbum.
A banda utilizava técnicas pouco convencionais para criar o seu som único. Em “Alabama Song (Whisky Bar)”, por exemplo, Ray Manzarek tocou marimbafone (uma espécie de xilofone) em vez de teclado, trazendo um toque exótico à faixa.
Álbum Revolucionário
Quando “The Doors” chegou às lojas a 04 janeiro de 1967, trouxe algo completamente diferente. A fusão entre blues, rock e poesia psicadélica, conduzida pela voz poderosa de Morrison, destacava-se num ano repleto de inovações musicais. Exemplos:
Between the Buttons (The Rolling Stones), Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane), Are You Experienced (The Jimi Hendrix Experience), Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (The Beatles), The Piper at the Gates of Dawn (Pink Floyd), Disraeli Gears (Cream), Axis: Bold as Love (The Jimi Hendrix Experience), John Wesley Harding (Bob Dylan).
Alguns exemplos contribuiriam para tornar 1967 um dos anos mais revolucionários da história do rock.
O álbum lançou sucessos como “Light My Fire”, que se manteve no primeiro lugar das tabelas americanas por três semanas, e marcou o início da lenda dos The Doors. Morrison tornava-se o símbolo de uma geração – irreverente, profundo e cheio de contradições.
Mais do que um álbum, “The Doors” é um testemunho de como quatro músicos – cada um com o seu talento único – criaram algo maior do que a soma das suas partes. Ainda hoje, ouvir este disco é mergulhar no espírito de uma época e na mente de um dos frontmen mais carismáticos e enigmáticos da história do rock.
Se a música era a porta, Morrison mostrou-nos o que havia do outro lado.
TOP 5
1. “Break On Through (To the Other Side)”
É a faixa de abertura é uma declaração de intenções. Com a sua energia visceral e a voz hipnótica de Jim Morrison, esta música marcou a estreia da banda nas rádios. As letras falam sobre romper barreiras e explorar novos horizontes, uma metáfora para a filosofia da banda. Apesar de não ter sido um grande sucesso nas tabelas inicialmente, tornou-se um clássico essencial dos Doors.
2. “Light My Fire”
Escrita em grande parte por Robby Krieger, esta faixa tornou-se o maior sucesso comercial do álbum, atingindo o primeiro lugar nas tabelas dos EUA. A combinação do solo de teclado de Ray Manzarek e a entrega vocal de Morrison fizeram dela um dos maiores hinos do rock psicadélico. É impossível ouvir “Light My Fire” sem sentir a intensidade e sensualidade que definiram os Doors.
3. “Alabama Song (Whisky Bar)”
Muitos podem não saber que originalmente é uma canção da ópera de Bertolt Brecht e Kurt Weill, esta interpretação mostra a capacidade dos Doors de reinventar material. Esta versão da banda adiciona um toque psicadélico e surreal à música, com o teclado peculiar de Manzarek a roubar o protagonismo, (vale a pena uma pesquisa rápida para ouvir o original).
4. “Back Door Man”
É outro cover, desta vez de um clássico do blues, escrito por Willie Dixon. E é aqui que a banda mostra o lado mais cru e energético. Com uma interpretação vocal absolutamente poderosa de Morrison e um instrumental impecável, a música tornou-se um dos momentos mais intensos do álbum. É uma homenagem ao blues, mas com o estilo inconfundível dos Doors.
5. “The End”
A fechar o álbum, “The End” uma viagem épica de 11 minutos que transcende os limites da música convencional. Gravada num estado de improvisação quase teatral por Jim Morrison. Rothchild ficou tão impressionado que insistiu para que a versão fosse incluída sem edição, apesar do risco de censura.