Morreu a cantora Tina Turner
A cantora Tina Turner morreu aos 83 anos de doença prolongada, adiantou hoje o seu porta-voz. "Tina Turner, a 'Rainha do Rock'n Roll' morreu pacificamente hoje, aos 83 anos, após uma longa doença em sua casa em Küsnacht, perto de Zurique, na Suíça", revelou o seu representante em comunicado citado pelo canal de televisão Sky News. "Com ela, o mundo perde uma lenda da música e um exemplo", acrescenta-se.
Após um casamento tormentoso com o seu companheiro musical Ike Turner, Tina Turner tornou-se um exemplo de revitalização, após uma relação conjugal manchada por maus tratos.
O álbum de 1984, Private Dancer, e os seus respetivos singles - nomeadamente What's Love Got to Do with It e o tema-título Private Dancer - assinalam o renascimento da cantora, projetando-a para a primeira divisão do estrelato pop, numa irreversibilidade que seria continuada por outros êxitos subsequentes e galopantes, como We Don't Need Another Hero (de 1985), Typical Male (de 1986) ou a versão de The Best (de 1989).
A empatia com o grande público, o carisma ao vivo confirmado nas digressões de estádio e os duetos com ícones como Rod Stewart, Mick Jagger, David Bowie ou Bryan Adams cimentaram ainda mais a glória da reta final da sua longa carreira, até ao momento da sua retirada em 2009.
Tina Turner atuou por duas vezes em Portugal, ambas em Lisboa, nos estádios de Alvalade (em 1990) e do Restelo (1996).
A cantora norte-americana é bem mais famosa pela sua carreira a solo mas foi na dupla Ike & Tina Turner que se formou como grande performer de palco. Ike Turner era o director de banda mas era Tina Turner a dona do espectáculo.
Distinguiram-se no circuito ao vivo com a mesma raça e exigência dos concertos bem físicos de James Brown. A dupla tinha o apoio de uma banda numerosa e ainda um trio de cantoras e dançarinas bem frenético chamado The Ikettes
Nessa rotina exigente de palco, chegavam a atuar seis vezes por dia no teatro Apollo, em Nova Iorque. Pelo meio, arranjavam tempo para gravarem em estúdio. Só em 1963, lançam dois álbuns, “Don't Play Me Cheap” e “It's Gonna Work Out Fine”, de que vamos ouvir os temas Wake Up e Mojo Queen.
Ike Turner era o mandão da dupla que formava com Tina Turner. Mas em 1966, a sua autoridade seria disputada com o produtor Phil Spector. Atento ao fortíssimo currículo de R&B de Ike & Tina Turner, Phil Spector faz uma proposta irrecusável de 20 mil dólares para gravarem com ele.
O produtor tinha em comum com Ike Turner uma rebeldia fora-da-lei, a nível de posse de armas e de drogas. Mas o perfeccionismo de Phil Spector era ainda maior que o de Ike Turner, obrigando Tina Turner a repetir 100 vezes uma frase, se necessário fosse, nas gravações do álbum emblemático, “River Deep – Mountain High”.
A técnica de gravação de Spector foi através da famosa Wall of Sound, um som cheio e compacto, registado num espaço pequeno. Ainda assim, Ike Turner comandou metade das músicas do álbum “River Deep - Mountain High”. A outra metade ficou por conta de Phil Spector, entre as quais o tema-título River Deep – Mountain High e A Love Like Yours... Don't Come Knocking Everyday.
Chamavam a Tina Turner o Mick Jagger no feminino, mas na verdade era Mick Jagger a Tina Turner no masculino. Foi Tina Turner que ensinou a Mick Jagger vários movimentos de dança, quando fizeram a primeira digressão conjunta com os Rolling Stones em 1966.
Porém, Tina Turner era mais agressiva e bem mais sexual. E isso está bem eternizado no documentário “Gimme Shelter”, quando simula um acto de amor enquanto canta com Ike Turner. Em 1969, Ike & Tina Turner voltavam a abrir para os concertos dos Rolling Stones, na digressão americana da banda de Mick Jagger, que terminou de forma trágica com o concerto no Festival de Altamont, com um fã negro morto à punhalada pelos Hell Angels.
Ike & Tina Turner estavam cada vez mais ligados ao rock & roll no final dos anos 60 e no início dos anos 70, e isso está bem comprovado em versões como I Wanna to Take You Higher dos Sly & The Family Stone e Proud Mary dos Creedence Clearwater Revival. Tudo isto em 1970.
Tina Turner é uma das grandes performers dos anos 60 e 70. Outro ícone dos anos 60, Janis Joplin, aclama-a como a sua favorita: "cantora fantástica, dançarina incrível, [dá] uma atuação fantástica", declarou no programa The Dick Cavett Show. Mas por trás da performer electrizante, estava uma mulher vítima de violência conjugal.
Ike Turner era o autoritário do grupo e o autoritarista do casal, alguém de conduta repetidamente violenta que maltratava a sua mulher e cantora Tina. À medida que os anos passavam, aumentava o consumo de cocaína de Ike Turner e a violência conjugal contra Tina Turner, ao ponto de lhe partir a cana do nariz.
Em 1976, mal refeita de um internamento por ingestão excessiva de Valliums e após mais uma tareia, Tina Turner decide sair de casa e abandonar o grupo. Era altura de fazer o seu caminho pelo seu próprio pé, depois de 20 anos sob a alçada de Ike Turner. Tina Turner abandona o marido com apenas 1 dólar no bolso e sem qualquer casa, para não mais voltar.
A retoma da carreira de Tina Turner aconteceu apenas a partir de 1983, com um sucesso a larga escala que nunca tinha atingido com Ike Turner. Tina Turner tornou-se uma heroína de concertos de estádio e uma campeã de vendas, longe do ex-marido.
