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Silvia Mendes
27 maio 2023, 07:56
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Roger Waters responde a investigação da polícia alemã: "passei a vida a usar a voz contra o autoritarismo"

Roger Waters responde a investigação da polícia alemã: "passei a vida a usar a voz contra o autoritarismo"
Kate Izor (cortesia Sony Music)
Silvia Mendes
27 maio 2023, 07:56
O britânico está a ser investigado por ter usado um fato "ao estilo nazi" nos concertos que deu em Berlim. "Os elementos da atuação são claramente uma declaração em oposição ao fascismo", respondeu.

Roger Waters está a ser investigado pela polícia alemã por “incitamento ao ódio” depois do espetáculo que deu recentemente em Berlim, Alemanha, no âmbito da digressão This Is Not a Drill, que passou pela Altice Arena, em Lisboa, em março. 

A investigação, que se referem aos espetáculos que o britânico deu a 17 e 18 de maio na Arena Mercedes-Benz, surge no seguimento da publicação de imagens, nas redes sociais, de uma das partes do concerto em que Waters veste uma farda parecida ao uniforme nazi, recriando uma cena satírica do filme "Pink Floyd: The Wall", de 1982, que o músico esclarece ser uma crítica ao autoritarismo e ao fascismo no comunicado que publicou para reagir à polémica e subsequente investigação das autoridades. 

No espetáculo, Waters aparece vestido com uma gabardina comprida e com emblemas que se assemelham a uma suástica, mas com dois martelos cruzados - iconografia usada na fase do disco "The Wall", que os Pink Floyd editaram em 1979. 

O uniforme usado por Waters "é considerado capaz de violar a dignidade das vítimas, bem como aprovar, glorificar ou justificar o comportamento violento e arbitrário do regime nazi de uma forma que perturba a paz pública", disse um porta-voz da polícia, citado pela Agência Reuters. 

Na Alemanha, as referências ao regime nazi e a utilização dos símbolos nazis são proibidas, excetuando quando são propósitos artísticos ou educacionais.

"A minha recente atuação em Berlim originou ataques de má-fé daqueles que me querem caluniar e silenciar porque discordam de minhas opiniões políticas e dos meus princípios morais", disse o músico na nota que publicou ontem.

"Os elementos de minha atuação que foram questionados são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas. As tentativas de retratar esses elementos como algo diferente são dissimuladas e motivadas politicamente". A representação de um demagogo fascista desequilibrado tem sido uma característica dos meus espetáculos desde 'The Wall' do Pink Floyd em 1980, acrescentou. 

O músico refere-se à personagem Pink que na teatralização no filme The Wall imagina ser um ditador fictício. No filme de 1982, Pink é interpretado pelo ativista Bob Geldof.    

 

 

"Passei a vida inteira a usar a voz contra o autoritarismo e a opressão, onde quer que os veja a acontecer. Quando era criança depois da guerra, o nome de Anne Frank [vítima do Holocausto] era frequentemente falado em nossa casa. Tornou-se numa lembrança permanente daquilo que pode acontecer quando o fascismo não é vigiado. Os meus pais lutaram contra os nazis na Segunda Guerra Mundial e o meu pai [que morreu na guerra em 1944] pagou o preço final", referiu ainda.

Em abril, Roger Waters venceu a batalha legal que o opunha às entidades locais da cidade de Frankfurt, também na Alemanha, que, no passado mês de fevereiro, o tinham proibido de atuar no Festhalle - uma das grandes salas de espetáculo daquela cidade alemã - por considerarem-no "antissemita".  

Em março, o músico britânico anunciou que ia tomar medidas legais contra a "política de cancelamento", sublinhando na altura que tinha acionado a equipa de advogados para agir legalmente. A justiça alemã deu-lhe razão. O ex-Pink Floyd está autorizado a atuar em Frankfurt no próximo dia 28 de maio. 

A proibição era assente na acusação de que Waters "teria levado a cabo várias ações hostis contra o Estado de Israel, entre as quais os seus apelos a outros músicos de boicote de concertos no país judaico, ou a comparação que fez das políticas de Jerusalém com o regime racista sul-africano do Apartheid, com base da atuação das forças israelitas contra os palestinianos". Era este o argumento que se lia no comunicado das entidades oficiais do estado de Hesse e da cidade de Frankfurt.

Waters é um assumido ativista pró-Palestina e crítico das ações do Estado de Isreal em relação ao conflito israelo-palestiniano, tendo já sido acusado de antissemitismo, sobretudo quando usou um porco insuflável, com uma estrela de David, nos espetáculos.

"Estou a dar um passo sem precedentes que é o de recorrer à lei para me proteger das ações inconstitucionais de duas autoridades que parecem confiar nas acusações falsas que foram feitas contra mim, ou seja, que sou antissemita. Quero deixar claro, e de uma vez por todas, que não sou antissemita e nada que alguém possa dizer ou publicar vai alterar isso. As minhas opiniões públicas referem-se apenas às políticas e ações do governo israelita e não ao povo de Israel", afirmou ainda Waters em comunicado quando anunciou que estava pronto para lutar na justiça.