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Redação
30 junho 2023, 14:40
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Joana Espadinha: "quando percebemos que o controlo é uma ilusão sentimos uma enorme liberdade"

Joana Espadinha: "quando percebemos que o controlo é uma ilusão sentimos uma enorme liberdade"
DR Foto Promocional
Redação
30 junho 2023, 14:40
'Será o Que Será' é a nova canção da cantora e compositora. Novo disco ainda durante este ano.

A cantora e compositora Joana Espadinha regressa aos singles com 'Será o Que Será' - canção que a transporta até às dores de crescimento da adolescência, num movimento nostálgico capaz de levar todos aqueles que experienciaram as descobertas dessa fase nos anos noventa.   

A produção musical de 'Será o Que Será' é do músico e produtor Ben Monteiro, que partilha a assinatura da letra com a própria Joana Espadinha. A realização do videoclipe, que também já está disponível, é de Martim Torres. O quarto álbum da dona de 'Astronauta' deverá sair ainda durante este ano. 

"Avesso foi o álbum que, em 2014, marcou a estreia de Joana Espadinha nos discos. Em 2018, a cantora lançou "O Material Tem Sempre Razão", o segundo registo que teve a produção de Benjamim, e, alguns anos mais tarde, em 2021, Joana Espadinha editou "Ninguém Nos Vai Tirar o Sol", álbum que contou novamente com a produção do músico e produtor português.

Joana Espadinha também compõe para outros artistas, como Carminho, Cláudia Pascoal, Sara Correia, Luís Trigacheiro, Elisa Rodrigues, Sofia Vitória e Marta Hugon.

 

'Será o Que Será' transporta-nos para o clássico 'Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)', há alguma ligação entre as duas canções?
É engraçado as pessoas associarem as duas canções. Não foi uma ligação premeditada. E ainda hoje me falaram da canção 'O Que Será', do Chico Buarque. Adoro as duas. Curiosamente, a 'Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)' era uma canção que a minha mãe me cantava, mas com uma letra alterada. Era qualquer coisa do género: "o que será que a minha Joaninha será?". Era muito amoroso. Ambas as canções têm muito peso na minha vida, mas a verdade é que nem sequer pensei nisso quando escrevi esta. Quando escolhi o título é que associei que o refrão era igual ao título desse clássico. Resolvi assumir a associação porque faz sentido para mim.

E qual é a história de 'Será o Que Será'?
A canção é como se fosse uma carta ao passado. É uma carta à Joana adolescente, à Joana que pensava muito no futuro. Quando temos essa idade queremos sempre crescer mais rápido, ser independentes. E, ao mesmo tempo, o futuro também é algo que nos parece muito imediato. Eu preocupava-me muito e era uma adolescente muito tímida. Por outro lado, além de ser uma fase muito importante na construção da nossa identidade, quase toda a gente olha para essa altura com nostalgia. Eu também tenho muitas saudades dessa Joana. Tenho saudades, sobretudo, da sensação de expectativa que tinha nessa altura. Se eu pudesse dizer-lhe alguma coisa, diria para que aproveitasse o momento porque tudo acabaria por correr bem. A mensagem da canção é essa. 


Mas essa preocupação com futuro era vivida com ansiedade?
Sim, sim. Ainda hoje lido com alguma ansiedade. Lido com a ansiedade do palco, por exemplo. Tive de fazer um longo caminho para conseguir aproveitar o momento em que estou em cima do palco. Antes de fazer esse caminho, sentia que os concertos até corriam bem, mas eu sofria com a experiência, sobretudo antes dos espetáculos. Tive de fazer esse caminho para conseguir dar o melhor de mim nos espetáculos. Precisei de resolver isso. Acho que os artistas falam pouco sobre esta questão. E sei que muitos passam por isto.

O título também sugere que largar essa ansiedade resulta da necessidade de deixar de querer controlar a situação… 
Precisamente. Esse foi o grande ensinamento de todo o processo que fiz. Não dá para controlar. Não conseguimos controlar nada, mesmo que estejamos muito bem preparados, que tenhamos as melhores condições no palco ou as melhores canções para apresentar. Não controlamos nada na vida. O controlo é uma ilusão. O que me ajudou no processo foi ter chegado a essa conclusão. Tive de aprender isso, por exemplo, quando participei no Festival da Canção, que é uma experiência com muita exposição mediática. Outro momento que me ajudou imenso foi quando fui mãe. (risos) Só nos podemos preparar, não podemos controlar. Quando percebemos isso sentimos uma enorme liberdade. 

E a dança, da qual falas em algumas canções, relaciona-se com isso de alguma forma, certo?
Sim. É aquela ideia de "dançar como se ninguém estivesse a ver". Também tem a ver com a história desta canção. Há uma frase que diz: "eu finjo-me ao espelho". Era uma brincadeira que eu e uma amiga minha fazíamos. Quando nos sentíamos inseguras tínhamos um código partilhado. Fazíamos o símbolo de um triângulo com as mãos que significava que estávamos a dançar ao espelho. Era uma espécie de superpoder. E também gosto muito de ver as pessoas a dançar nos concertos.

 

E o que é que podes contar sobre o novo disco?
Ainda não tenho muitas certezas [sobre o que será o álbum] mas tenho muitas canções. Estou a escolhê-las agora. Sei que vai ser um disco diferente porque vai ter mais do que um produtor. O Ben Monteiro, por exemplo, que foi quem produziu o 'Será o Que Será', provavelmente vai continuar envolvido. Vou agora trabalhar com o António Vasconcelos Dias, que é quem faz a direção musical dos concertos. Temos um concerto novo. Já tocámos algumas canções novas. Estamos em fase de teste e tem sido muito giro ver a reação das pessoas aos novos temas. Gostava que o disco não fosse feito só com canções alegres. Aliás, mesmo as canções alegres têm um travo melancólico que gosto de manter. Acho que nada na vida é 100% feliz. Tenho uma canção, que se chama 'Vergonha na Cara', que tem a ver com a tal superação da timidez. E tenho outras canções mais melancólicas. Acho que vai ser um disco com mais veneno, um pouco mais adulto.