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Agência Lusa
08 maio 2024, 13:01
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Disparam casos de tosse convulsa em Portugal. São 200 em quatro meses

Disparam casos de tosse convulsa em Portugal. São 200 em quatro meses
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Agência Lusa
08 maio 2024, 13:01
Último balanço da Direção-Geral da Saúde mostra um aumento significativo do número de casos nos primeiros quatro meses do ano.

Portugal registou 200 casos de tosse convulsa nos primeiros quatro meses de 2024, quando em todo o ano anterior tinha registado 22, revelou hoje a Direção-Geral de Saúde (DGS).

O aumento dos casos de tosse convulsa verificou-se igualmente em toda a Europa.

Entre o início de 2023 e abril deste ano registaram-se 10 vezes mais casos da doença nos países da União Europeia (UE) e do Espaço Económico Europeu (EEE - mais Noruega, Islândia e Liechtenstein) do que em 2022 e 2021, indica um relatório da agência de saúde europeia divulgado hoje.

O Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, explica as possíveis causas para este surto e medidas de prevenção em caso de doença. 

Entrevista a Gustavo Tato Borges


O estudo do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) dá conta de perto de 60.000 casos na UE/EEE naquele período, 25.130 em 2023 e 32.037 entre janeiro e março deste ano.

Em resposta escrita à Lusa, a DGS refere que "a maioria dos casos confirmados [de tosse convulsa] ocorreu em idade pediátrica (86%), sobretudo em crianças entre os 10 e 13 anos (21%) e com idade inferior a 1 ano (20%)".

De acordo com o ECDC, os doentes de maior risco são os bebés com menos de seis meses, não imunizados ou apenas parcialmente, e "a maioria das hospitalizações e mortes relacionadas" com a doença ocorre "nesta vulnerável faixa etária".

Além destes, os mais velhos e os que têm problemas de saúde também têm um maior risco de doença grave e hospitalização.

"Durante o período 2023-24, os bebés (com menos de um ano) foram o grupo com maior incidência em 17 países da UE/EEE, enquanto em seis outros foi o grupo entre os 10 e os 19 anos (...). A maioria das mortes ocorreu em bebés".

Em comunicado, a agência europeia assinala que a tosse convulsa continua a ser um problema para a saúde pública, dado a doença ser "endémica na UE/EEE e em todo o mundo e causar epidemias significativas a cada três a cinco anos, mesmo em países com uma cobertura vacinal elevada", como é o caso de Portugal.

Em 2023, adiantou a DGS, "a cobertura vacinal da 5.ª dose de vacina combinada contra o tétano, difteria e tosse convulsa atingiu os 95% e estima-se que 85% das mulheres grávidas elegíveis tenham sido vacinadas".

"O aumento do número de casos de tosse convulsa em toda a Europa mostra a necessidade de se estar vigilante. É uma doença grave, especialmente em bebés", afirma a comissária europeia da Saúde, citada no comunicado do ECDC.

Stella Kyriakides lembrou que existem "vacinas seguras e eficazes" para prevenir a doença e que "a vacinação é a principal ferramenta para ajudar a salvar vidas e impedir que a doença se espalhe ainda mais".

Segundo o relatório, o aumento dos casos de tosse convulsa, que se registou após alguns anos de circulação limitada da doença na UE/EEE, especialmente durante a pandemia de covid-19, pode estar ligado a uma série de fatores, como os picos epidémicos esperados, os indivíduos não vacinados ou que não têm vacinas atualizadas e a diminuição da imunidade e do reforço natural na população em geral durante a pandemia.

A agência europeia de saúde recomenda que os países reforcem os programas de vacinação e mantenham uma elevada cobertura vacinal.

Além disso, acrescenta, a imunização contra a tosse convulsa durante o segundo e terceiro trimestres da gravidez é altamente eficaz na prevenção de doença e morte entre os recém-nascidos.

A maioria dos países da UE/EEE recomenda agora essa imunização materna, além do programa de vacinação infantil de rotina.

O ECDC defende ainda o aumento da "consciencialização dos profissionais de saúde sobre a situação epidemiológica da tosse convulsa na sua área geográfica" e do conhecimento sobre a doença, a continuação da "vigilância da tosse convulsa", bem como que se garanta a capacidade para a deteção precoce, diagnóstico, resposta e controlo de surtos.

"As informações sobre a tosse convulsa devem salientar que esta é uma doença altamente transmissível e que é necessário proteger as crianças", refere o estudo.

A Direção-Geral da Saúde diz manter "uma monitorização permanente da situação epidemiológica nacional e internacional, adequando as suas ações ao risco para a população portuguesa", adiantando que "no início de maio enviou um alerta às ULS [Unidades Locais de Saúde], hospitais do setor privado e social e autoridades de saúde".

Entre as medidas de saúde pública a aplicar, a DGS pediu "a testagem dos casos possíveis ou prováveis de tosse convulsa, a partir das secreções nasofaríngeas", alertando para a "necessidade de vacinação de todas as grávidas que tenham critérios de elegibilidade".

A tosse convulsa transmite-se através de gotículas de saliva expelidas pelos espirros ou tosse e pelo contacto com objetos contendo secreções do doente, sendo o período de contágio mais intenso na primeira semana em que se manifestam os sintomas.