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Álbum da Semana: MTV Unplugged in New York

Ouça este álbum, do lado A ao lado B, de domingo para segunda à noite, entre as 00h-01h.

Álbum da Semana: MTV Unplugged in New York

Álbum da Semana com Sandra Ferreira

Gravado a 18 de novembro de 1993, nos estúdios da Sony Music em Nova Iorque, o “MTV Unplugged in New York” foi lançado postumamente a 1 de novembro de 1994, cerca de sete meses após a morte de Kurt Cobain. Naquele momento, o grunge deixou de lado as camisas de flanela e o som distorcido para dar lugar a algo mais intimista. “Nirvana MTV Unplugged in New York” não foi apenas um concerto acústico; foi um momento único, gravado em um único take, que mostrou o estado mental frágil e, ao mesmo tempo, brilhante de Kurt Cobain.

Enquanto muitos artistas usavam o formato para transformar sucessos radiofónicos em versões acústicas, os Nirvana decidiram fazer algo diferente. Antes do concerto, o clima era tudo, menos descontraído. Dois dias de ensaios foram marcados por muita tensão. Kurt Cobain, com a sua teimosia habitual, travou um braço de ferro com a MTV, que queria convidados "de peso" como Eddie Vedder e, claro, os grandes sucessos na setlist. Cobain não cedeu, trouxe os menos conhecidos Meat Puppets e evitou os hits mais óbvios.  

Entre as 14 faixas, brilham canções como "About a Girl", que, até então, vivia escondida no primeiro álbum da banda (“Bleach”), e o cover de  "The Man Who Sold the World" de David Bowie — uma interpretação que se tornou tão icónica que muitos pensam que a música era dos próprios Nirvana. Mas foi na sequência final, com "Where Did You Sleep Last Night", que Cobain deixou a audiência sem fôlego. A forma como ele canta o último verso, com uma voz quebrada que parece conter todo o peso do mundo, é uma das coisas mais arrepiantes que já ouvi. 

É curioso como, no meio da agitação e caos que caracterizavam a banda, este álbum é quase um antídoto: minimalista, sem pretensões, mas carregado de emoção. Talvez por isso continue a ser um dos álbuns ao vivo mais importantes da história da música, cristalizando Kurt Cobain num momento em que ele parecia estar a desmoronar-se. 

Ao ouvi-lo esta semana, somos transportados para essa sala em Nova Iorque, com velas, lírios brancos e um grande lustre a decorar o palco — uma estética que parecia antecipar um adeus.  

Lembra-se onde estava quando ouviu este álbum pela primeira vez? Se não o ouviu, esta semana na M80 é a oportunidade perfeita para mergulhar neste momento tão especial na carreira dos Nirvana.  

Ouvi-lo de novo, agora passados estes anos, é como se voltasse à casa dos meus pais a ouvir o meu irmão, que sabia a letras todas, a imitar a voz de Kurt.  

Agora vamos ao Top 5 do disco. Bastante difícil escolher... 

TOP 5

1. "About a Girl"

Na versão acústica, ganha um destaque que nunca teve quando saiu no primeiro disco da banda.  

2. "Come As You Are"

O riff de guitarra continua marcante mesmo suavizado pela atmosfera acústica.  

3. "The Man Who Sold the World"

O original é de David Bowie — a interpretação de Kurt foi tão icónica que muitos pensam que a música era dos próprios Nirvana.

4. "All Apologies"

Com o seu refrão melódico e camadas delicadas de cordas, é uma das versões que continua a passar muito nas rádios.  

5. "Where Did You Sleep Last Night

Uma versão do clássico folk-blues de Lead Belly. A intensidade na voz de Cobain encerra este concerto magistralmente. Poucos meses depois, Cobain morreu e esta música, a última gravação dele, tocou repetidamente.  

Qual é a sua preferida?