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Redação / Agência Lusa
11 agosto 2022, 14:10
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Incêndios: Fogo provocou danos enormes na biodiversidade da Serra da Estrela

Incêndios: Fogo provocou danos enormes na biodiversidade da Serra da Estrela
Redação / Agência Lusa
11 agosto 2022, 14:10
Cerca de 10.000 hectares já arderam na Serra da Estrela.

O incêndio que deflagrou no sábado no concelho da Covilhã provocou ?danos enormes? na biodiversidade da Serra da Estrela, afetando várias áreas de grande relevância para a conservação da natureza, afirmou hoje biólogo do Centro de Interpretação.

?Este é um dano enorme na biodiversidade da Serra da Estrela, porque o incêndio atinge uma área muito vasta e também em diferentes altitudes ? há áreas destruídas em zonas situadas a 600 metros até pontos situados nos 1.500 metros. Esta heterogeneidade de espaços afetados resulta numa enorme perda, porque afeta muitos habitats diferentes?, disse à agência Lusa José Conde, biólogo do Centro Interpretação da Serra da Estrela (CISE), estrutura da Câmara de Seia.

Ressalvando que a avaliação no terreno ainda não foi feita, o especialista realçou que, face à extensão do incêndio, ?todos os grupos de fauna e flora terão uma perda verdadeiramente severa?.

Pela área afetada, o processo de luto ?será muito longo e penoso? e a recuperação lenta, alertando que ?algumas perdas poderão ser mesmo irreparáveis porque altera-se o equilíbrio do ecossistema?.

?Houve vários habitats de maior importância ecológica que foram afetados, em particular, bosques de azinheiras, bosques de castanheiros, algumas áreas de carvalhais e ainda áreas de mato, nomeadamente caldoneirais?, formações arbustivas raras no país dominadas pela planta caldoneira, que são um habitat importante para várias comunidades de insetos, répteis e aves, frisou.

Para além da importância destes habitats para a conservação da flora, há "a lamentar uma perda correspondente ao nível da fauna, que é muito significativa, em particular algumas espécies mais raras, com distribuição mais local?, salientou.

Répteis como a víbora cornuda, o sardão, ou espécies de grilos e escaravelhos que apenas existem na Serra da Estrela, assim como pequenos carnívoros como as fuinhas e as ginetas terão sido afetados, referiu.

?Estamos a falar de impactos transversais a todos os ecossistemas terrestres?, salientou.

No caso das aves, em que a Serra da Estrela também apresenta uma grande diversidade, haverá espécies com menor capacidade de expressão que poderão ter sido fortemente atingidas, enquanto aves de maior porte, apesar de terem a capacidade de ?escapar às chamas e de se deslocar para zonas não atingidas, muito rapidamente não terão alimento disponível?, notou.

Também as espécies aquáticas terão a sua sobrevivência ?muito condicionada? num futuro próximo, face à possibilidade de contaminação das águas com sedimentos e cinzas resultantes dos incêndios, apontou.

Toda a fauna que sobreviver às chamas ?vai ter grandes dificuldades, porque os habitats já não lhes vão oferecer a mesma disponibilidade de refúgios e de alimentação?, referiu o biólogo.

?Todos temos a lamentar as perdas económicas e sociais, que são a prioridade, mas, no futuro, devemos procurar adotar um conjunto de medidas de gestão que permita, da melhor forma, compatibilizar as atividades humanas com a conservação da natureza. Teremos que ir de mãos dadas ? o desenvolvimento local e a conservação. Só dessa forma podemos ambicionar ter um sistema mais resiliente ao fogo e às perdas que ele implica?, salientou José Conde.