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Gonçalo Palma
29 outubro 2021, 15:58
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13 músicas para o Halloween

13 músicas para o Halloween
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Gonçalo Palma
29 outubro 2021, 15:58
Sobem a palco mortos-vivos, lobisomens, vampiros e bruxas. As folhas de pauta estão manchadas de sangue. Os instrumentos estão com teias de aranha. E as portas da sala escura rangem demasiado. Aqui, ninguém está a salvo.

Juntemos às máscaras horrificas e às gomas em formas de olhos uma banda sonora medonha, para o Halloween que ensombra este fim-de-semana, mais concretamente a noite de domingo, a 31 de outubro. 

A música e o terror já fizeram muitos pactos de sangue. Revolvemos lembrar o assombramento da música pelas trevas do medo. Irromperam por várias canções feitiços de bruxas e luas cheias em bosques densos. 

Sonho e música alimentam-se. Mas neste caso, trata-se mesmo de pesadelos. Escolhemos 13 temas.  

Michael Jackson - Thriller (1982)
O pico mais mediático da pop coincide com a ode ao terror no tema-título do álbum "Thriller". Uma porta a ranger, as passadas notívagas sobre soalho de alguém misterioso e os uivos de lobos abrem esta canção, adensada pelo monólogo do célebre ator de filmes de terror, Vincent Price. O videoclipe, em forma desenvolvida de curta-metragem, caiu nas mãos de outro especialista do género, John Landis. A metamorfose monstruosa de Michael Jackson para uma espécie de lobisomem fez chorar muitas crianças, assim que a sua voz passou a grunhir, as mãos ganharam garras e os olhos aclararam como uma fera. Mesmo quando o vídeo se foi tornando mais lúdico, com uma dança coreografada de mortos-vivos, a "namorada" de Michael Jackson nunca deixou de ser a presa em risco. 

 

Kate Bush - Waking the Witch (1985)
A literatura e filmografia de terror foram várias vezes base de inspiração para algumas canções de Kate Bush. No álbum que é talvez a sua obra-prima, "Hounds of Love", a cantora descola na segunda metade experimental do disco para o mundo não-táctil dos sonhos e pesadelos. A faixa mais teatral 'Waking the Witch', com vozes assustadoras, é como um pesadelo, sobre o medo persecutório que a religião alimenta contra a mulher pecadora e contra o tormento do vermelho. 

 

Billie Eilish - Bury a Friend (2019)
"Bury the hatchet or bury a friend right now" ["enterra o machado ou enterra agora um amigo"] é uma das frases duras de 'Bury a Friend'. Continuamos nos domínios dos pesadelos, neste caso com pensamentos mórbidos e até infanticidas e canibais. A chamada do cineasta de terror Michael Chaves para o videoclipe do tema veio acrescentar ainda mais paranoia ao monstro que vive dentro de nós durante as más noites.

 

The Cure - A Forest (1980)
Quase 20 anos antes do filme "The Blair Witch Project", Robert Smith perdeu-se (em sentido figurado) noutra floresta medonha e labiríntica e inspirou-se para uma das canções mais sombrias de sempre dos Cure, 'A Forest', que contribuiu para o rótulo de rock gótico que os tabelou. A mistura de ambiente austero com um certo minimalismo sonoro faz de 'A Forest' um bicho da noite um pouco especial.

 

Screamin' Jay Hawkins - I Put a Spell on You (1956)
O seu bigode surrealista à Salvador Dali era formado por dois ossos de esqueleto. O seu olhar louco e aberto era também medonho. A juntar aos esqueletos em palco e à fumarada esquisita de bruxedos, há um tema mais emblemático que os outros todos que assanhava ainda mais as suas atuações: 'I Put a Spell on You', que está na génese do que viria a ser o shock rock. As tonalidades vocais de vilão sádico, os berros e o estranho gargarejo faziam de Screaming Jay Hawkins uma espécie de Vincent Price dos blues. E era em 'I Put a Spell on You' que o seu demónio estava mais acicatado.

 

Bauhaus - Bela Lugosi's Dead (1979)
É uma das grandes marchas fúnebres do rock e o primeiro tema de sempre dos Bauhaus. A atribuição de imortalidade ao ator lendário Bela Lugosi (que interpretou Drácula e Frankenstein nos anos 30) foi na forma mais honrosa para o caso, como um morto-vivo - "Bela's undead, Bela's undead" - enquanto morcegos esvoaçam da torre da igreja. A música 'Bela Lugosi's Dead' serve até mais tarde de espécie de videoclipe de abertura ao filme de culto de 1982 "Fome de Viver", contracenado por David Bowie com Susan Sarandon e Catherine Deneuve. 

 

Mão Morta - Cão de Morte (2001)
Os Mão Morta são talvez a banda nacional mais recorrente na música de terror. O sangue que lhes corre nas veias mancha muitas das letras das músicas do grupo, através de perigosas golpadas da imaginação do carismático cantor de Adolfo Luxúria Canibal. Em 'Cão de Morte', a "navalha" volta a estar afiada. No vídeo a preto e... vermelho, morde melhor quem morde e ri por último.  

 

The Cramps - I Was a Teenage Werewolf (1980)
Se houve banda que levou o imaginário do terror para os palcos, ela dava pelo nome de Cramps. O casal nuclear do grupo, o vocalista Lux Interior e da guitarrista Poison Ivy, levou as suas personagens a sério. Tinha um ar tenebroso que punha em sentido os jornalistas que os entrevistavam. O par romântico vivia numa casa junto a um bosque, que tinha um problema: um cheiro nauseabundo a corpos mortos vindo do crematório, do cemitério de celebridades ali ao lado. Por alguma razão, chamavam aos Cramps de banda psychobilly, que fazia do palco um parque de diversões, que misturava o terror com o burlesco. No tema 'I Was a Teenage Werewolf', os dentes caninos do predador estavam bem alongados. Quando cantava esse tema, Lux Interior tornava-se literalmente um monstro de palco, com os seus olhos virados e a língua de fora de faminto. A fumarada de palco era tal em 'I Was a Teenage Werewolf' que parecia nevoeiro. Só faltava a lua cheia.

 

Sonic Youth - Death Valley 69 (1984)
O longa-duração de estreia dos Sonic Youth, "Confusion Is Sex", pode ser chamado de álbum de terror, tal a atmosfera pesada das músicas. A lendária banda indie explorou a mesma sensação do medo no disco seguinte, "Bad Moon Rising", em especial no tema 'Death Valley 69', sobre o massacre genocida da seita de Charles Manson em 1969, em Los Angeles. No vídeo, os membros da banda, manchados de sangue no chão, recriam uma chacina. 

 

Aphex Twin - Come To Daddy (1997)
Na eletrónica, o terror é também pontualmente uma fonte de inspiração. E no caso do vídeo de 'Come To Daddy' do DJ Aphex Twin, é não só uma fonte, como um resultado. Chris Cunningham dirige este vídeo, onde a cara de Aphex Twin é distorcida e fura uma televisão abandonada na rua, para susto de uma idosa que passeava o seu cão. Para aumentar a bizarria deste vídeo sobrenatural, um grupo de crianças com as exatas caras sorridentes e assustadoras de Aphex Twin espalha o terror naquele lugar decrépito. Este videoclipe sci-fi é há muito um objeto de culto venerado.

 

Fever Ray - When I Grow Up (2009)
O videasta dinamarquês Martin de Thurah deu mais umas achegas sinistras no clipe de 'When I Grow Up' à música já de si enigmática e sombria de Fever Ray, a persona musical da sueca Karin Dreijer, da dupla de eletrónica The Knife. No teledisco, o palco de uma bruxa fantasmagórica é a prancha da piscina onde dança de dia e de noite.    

 

Tom Waits - What's He Building? (1999)
O tema spoken word mais célebre de Tom Waits é provavelmente este sinistro 'What's He Building?', o olhar desconfiado para aquele vizinho misterioso e solitário que não tem amigos. "O que estará ele a construir?", questiona-se Tom Waits, que põe a imaginação bizarra a funcionar a partir do que vê e ouve daquela casa. Tudo o alarma: a relva moribunda do quintal, aquela estranha lâmpada pendurada, o reflexo azulado e permanente da televisão, as marteladas no chão de madeira, os gemidos de alguém, os boatos sobre uma ex-mulher, a especulação convicta que terá passado uns tempos na prisão, ou aquela abundante correspondência que recebe.      

 

Gorgoroth - Possessed By Satan (1996)
O metal é um género fértil na evocação do terror, em especial o subgénero do black metal. As bandas norueguesas são as que costumam explorar mais estas temáticas do medo, como o caso dos controversos Gorgoroth. O palco que ocupam é todo ele um cenário de guerra, com luzes avermelhadas, tochas, cabeças de ovelhas, roupas esquisitas com mangas de metais pontiagudos e maquilhagens assustadoras. Junta-se a isto tudo o conteúdo satânico das músicas. Aqui, o terror é toda uma existência.   


 

Artigo originalmente publicado em setembro deste ano, por ocasião do festival MoteLx, e agora recuperado e adaptado para o Halloween.