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Redação
14 junho 2023, 02:28
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Maroon 5: 22 anos da banda atirados para cima do palco

Maroon 5: 22 anos da banda atirados para cima do palco
Redação
14 junho 2023, 02:28
Concerto desta noite em Algés teve alinhamento mais histórico. Momento acústico do encore marcou muito o espetáculo.

Livres do compromisso de se focarem mais no último álbum (“Jordi”, do qual só se tocou um tema), os Maroon 5 puderam fazer um livre salteado histórico pelos 22 anos de percurso no Passeio Marítimo de Algés, naquele que foi o concerto de arranque da digressão europeia.

Foi com o groove funk de 'Moves Like Jagger' que os Maroon 5 entraram em palco, apostando logo num dos seus temas mais populares. Percebeu-se logo no início qual seria a predisposição da atuação. A banda - em formato de sexteto - não estava para fazer grandes economias relativamente aos seus êxitos. O palco estava tão despojado de artifícios que, se não fosse o ecrã gigante por trás dos músicos, seria tão só… um mero palco, com umas luzes porreiras. E o vocalista Adam Levine seria previsivelmente o monopolizador das luzes da ribalta, ele que estava de hoodie, calções, botarras, cabelo oxigenado… e com muita vontade de dançar.   

Segundo tema, segundo êxito: o velhinho 'This Love', um rock com reminiscências de Justin Timberlake, a merecer uma conclusão heróica de Adam Levine, quando pega na guitarra elétrica e experimenta o seu primeiro solo da noite. Depois, os Maroon 5 pisam a terra quente da Jamaica, na versão ska de 'Stereo Hearts' dos Gym Class Heroes e na interpretação de 'One More Night'.

O riff do guitarrista principal James Valentine abre o portão para o tema 'Animals', a manter a dinâmica forte do concerto e a alimentar o bicho ao vivo do grupo. O público dá sinais do seu calor humano no refrão, num tema em que Adam Levine volta a reclamar do capricho em fechá-lo com mais uma guitarrada hard-rocker. O cantor já está só de camisa de flanela, quando canta 'Love Somebody' que, para exaltar ainda mais a música, inicia uma passeata pela língua do palco. O recinto chama-se Passeio Marítimo de Algés, mas o passeio de Levine é sobre o mar de gente, alargando o trajeto pedonal entre as extremidades do palco, em 'Harder to Breathe', sem nunca largar o suporte de microfone, como se fosse a bengala do caminhante. 

Em 'Lucky Strike', é o guitarrista principal James Valentine a ter aval para brilhar com o seu solo, com os típicos esgares da iconografia rock no momento do prodígio a dedilhar as cordas. 'Sunday Morning' é um momento soul com afinidades com Billy Joel, enquanto o calor aperta mais no palco e a camisa de Adam Levine vai sendo aberta, com a tatuagem da borboleta na teia de aranha cada vez mais visível. A popularidade de 'Payphone' faz agregar os numerosos grupos de amigos em Algés, cantando em coro, a uns bons metros de Levine.

Depois, o funk apega-se às guitarras em 'What Lovers Do' e na sua colagem a 'Makes Me Wonder', até se chamar lá dos céus a memória de um dos seus maiores pregadores, Prince, na versão de 'I Wanna Be Your Lover', com Levine a tentar os falsetes característicos do autor de 'Purple Rain'. 

Naquela fase, parece que os ícones da música (vivos ou não) estão todos a sair do museu, para se apoderarem dos Maroon 5. De Prince passa-se para o fantasma de Stevie Wonder, numa soul de celebração ao seu estilo, mas da colheita autoral do teclista dos Maroon 5, PJ Morton, no seu 'Heavy', estabelecendo um mano-a-mano vocal com Adam Levine. Tema seguinte, outra referência… Em 'Maps', Adam Levine é possuído pelos tiques vocais à Sting, parecendo de repente ter atrás de si os Police, com um candidato a Stewart Copeland (Matt Flynn) a cavalgar pelas mais variadas percussões, e o guitarrista James Valentine a parecer ter como mestre Andy Summers. 

Em 'Memories', todo o público de Algés junta-se ao brinde que a balada sugere, não se levantando copos no ar, mas sim telemóveis, quais pirilampos luminosos de noite. Já com mais de uma hora em palco, Adam Levine passa no teste à voz quando puxa pelos melhores falsetes que tem para dar ao mundo, em 'Don't Wanna Know'. Em 'Daylight', cumprem-se todos os protocolos que um tema final exige: a exaltação de emoções por Levine na língua de palco, e o espaçamento maior entre baquetadas, com Adam Levine a dar um salto com a guitarra, antes de se pirarem. 

No início do encore, apenas voltam Adan Levine e James Valentine para momentos acústicos a dois. “Vamos tentar algo novo. Se não funcionar, não prestamos”, avisa Adam Levine, que se sente afortunado por “estar numa banda que toca há 20 anos pelo mundo”. Won't Go Home Without You supera as expetativas de Levine, que não tinha a certeza se se iria lembrar do segundo verso, e reconhecendo que "estava nervoso". O público foi ainda mais generoso aquando da segunda versão acústica, 'She Will Be Loved', com Adam Levine tão encantado com a reação da assistência que reforça a dicção numa palavra que vinha mesmo a calhar na letra: 'Beautiful'. "Escrevemos esta canção há 22 anos num apartamento m#rd#so e agora estamos aqui a cantá-lo em Portugal para vocês".  

Na parte final do encore, Levine já está segurado pela banda completa em 'Girl Like You', tema em que surgem imagens de várias mulheres a cantarem, como se estivessem ali com os Maroon 5. O rock funky devoto de Prince de 'She Will Be Loved' fecha o concerto, que durou uma hora e quarenta minutos. Toda a gente pareceu sair satisfeita. 

A cantora neerlandesa Davina Michelle assegurou a atuação da primeira parte, durante a qual fez a versão de 'What About Us' de Pink que fez dela um fenómeno no YouTube. Davina Michelle agradeceu a Pink e aos Maroon 5 a possibilidade de atuar diante de uma multidão tão grande como a que estava presente no Passeio Marítimo de Algés. A hard-rocker dos Países Baixos estava tão efusiva que quis gozar cada segundo da sua prestação ao vivo como se estivesse no Jardim do Éden.